BC sobe o tom e indica alta de juros
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No último relatório de inflação da gestão Henrique Meirelles, o Banco Central deixou tudo pronto para que o futuro presidente da autoridade monetária, Alexandre Tombini, inicie sua gestão subindo os juros para controlar o processo de alta da inflação e conquistar credibilidade no mercado financeiro.

Apenas uma semana depois de a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) desestimular as apostas de elevação da Selic em janeiro, o relatório trimestral divulgado pelo BC subiu fortemente o tom e levou o mercado a se posicionar para um aumento do juro básico já na primeira reunião de 2011.

A posição mais agressiva do colegiado no relatório evidencia que a leitura de parte significativa do mercado de que ata adiava o aperto monetário não foi considerada correta pelo BC. Tal avaliação no mercado reduziu os juros de curto prazo, movimento que, se perdurasse, atrapalharia o objetivo da autoridade de conter a escalada de preços e a piora das expectativas.

Assim, o BC, num ato raro, preferiu dar seu recado de forma direta no relatório, evidenciando que considera necessário subir logo os juros. A alta dá continuidade ao processo de aperto monetário iniciado neste mês com as medidas de contenção do crédito e elevação dos compulsórios, cujo impacto, segundo alguns economistas, é equivalente a uma subida de 0,75 ponto porcentual na Selic.

O relatório mostrou que, no cenário com juros e câmbio constantes (chamado de referência), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficará em 5% em 2011. Já no chamado cenário de mercado, que considera a previsão de alta dos juros e variação do dólar prevista pelos analistas do setor privado, a estimativa do BC é de inflação de 4,8% em 2011.

2012. Assim, com seus cálculos apontando o IPCA acima da meta de 4,5% no próximo ano, o BC afirmou: Importante destacar que, no regime de metas para a inflação, desvios em relação à meta, na magnitude dos implícitos nessas projeções, sugerem necessidade de implementação, no curto prazo, de ajuste na taxa básica de juros, de forma a conter o descompasso entre o ritmo de expansão da demanda doméstica e a capacidade produtiva da economia, bem como de reforçar a ancoragem das expectativas de inflação, afirmou o BC.

A ata trouxe pela primeira vez projeções para a inflação no ano fechado de 2012. Pelo cenário de referência, o IPCA de 2012 ficará em 4,8%. O cenário de mercado, por sua vez, indica a inflação retornando ao centro da meta.

Derrapada. A divulgação de um relatório claro logo depois de uma ata dúbia evidenciou mais uma derrapada do BC na coordenação das expectativas. O ano de 2010 foi pródigo em situações desse tipo. Em março, por exemplo, às vésperas da decisão de Meirelles sobre se deixaria o cargo para disputar as eleições, o BC manteve os juros fazendo um discurso de alta.

A economista-chefe do Banco Fibra, Maristella Ansanelli, afirmou que não houve mudança no cenário em uma semana que explicasse alteração tão grande no tom do BC. A ata gerou um pouco de confusão quanto ao início do aperto monetário. Acho que, até por isso, o relatório acabou sendo tão explícito. Foi uma forma de ancorar novamente as expectativas, disse a economista.

Questionado sobre as dificuldades do Banco Central em coordenar as expectativas, o diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton Araújo, alegou que nos últimos tempos tem sido mais difícil construir cenários. A marca dos últimos tempos tem sido a volatilidade e isso se traduz na construção de cenários, disse. Reconheço que as incertezas que cercam o cenário são altas.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Data: 23/12/2010 às 10h23
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