Apesar de a economia brasileira estar
praticamente estagnada,
mas com inflação ainda resistente, o Comitê de Política Monetária
(Copom) do Banco Central acelerou o ritmo de alta e subiu a taxa básica
de juros da economia em 0,5 ponto percentual nesta quarta-feira (3), de
11,25% para 11,75% ao ano. Em outubro, os
juros tinham avançado menos: 0,25 ponto percentual. Esse foi o segundo aumento seguido da taxa Selic, que está no maior patamar em três anos.
A intensificação do aumento dos juros
já era esperada por grande parte dos economistas
do mercado financeiro, embora, na semana passada, pesquisa conduzida
pelo Banco Central com mais de 100 bancos tenha indicado uma elevação
menor, para 11,50% ao ano. Nos últimos dias, porém, os juros futuros,
que mostram as apostas das instituições financeiras, já apontavam para
uma alta mais intensa da taxa básica da economia brasileira.
A previsão de uma aceleração no aumento de juros começou a se formar
após o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton, ter
sinalizado, em meados de novembro, que a instituição
poderá ampliar o aperto monetário para domar a inflação.
O Copom não será complacente com a inflação. Se necessário for, no
momento certo, o comitê poderá recalibrar sua ação de política monetária
de modo a garantir a prevalência de um cenário benigno para a inflação
nos próximos anos, afirmou o diretor na ocasião.
Apesar de ter acelerado o processo de alta dos juros, o Copom indicou,
no comunicado divulgado após a reunião, que a taxa deverá continuar
subindo no futuro, mas que isso poderá acontecer de forma menos intensa,
com parcimônia. Considerando os efeitos cumulativos e defasados da
política monetária, entre outros fatores, o Comitê avalia que o esforço
adicional de política monetária tende a ser implementado com
parcimônia, informou a autoridade monetária.
Metas de inflação
Pelo sistema de metas de inflação vigente na economia brasileira, o BC
tem de calibrar os juros para atingir objetivos pré-determinados. Para
2014, 2015 e 2016, a meta central de inflação é de 4,5%, mas o IPCA, que
serve de referência para o sistema brasileiro, pode oscilar entre 2,5% e
6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.
No fim de setembro, o Banco Central estimou, por meio do relatório de
inflação, um IPCA de 6,3% para este ano e de 5,8% a 6,1% para 2015, ou
seja, valor ainda distante da meta central de 4,5% para ambos os anos.
Segundo a autoridade monetária informou naquele momento, a inflação
começará a convergir mais fortemente para a meta central somente em
2016.
Em doze meses até outubro, o
IPCA somou 6,59%
- acima do teto de 6,5% do sistema de metas brasileiro. Entretanto, o
governo considera que a meta foi cumprida ou não apenas com base no
acumulado em 12 meses até dezembro de cada ano. Para 2015,
o mercado financeiro já está prevendo uma inflação de 6,49%, ou seja, no limite de 6,5% do sistema de metas brasileiro.
Mesmo com PIB patinando, dólar e administrados preocupam
Mesmo com o baixo nível de atividade, que registrou aumento de apenas
0,2% neste ano até setembro, e com a queda dos preços das commodities
(produtos básicos com cotação internacional), fatores que atuam para
conter a inflação, a alta do dólar e dos preços administrados (como
telefonia, água, energia, combustíveis e tarifas de ônibus, entre
outros), continuam pressionando os preços. Além disso, a inflação de
serviços, impulsionada pelos ganhos reais de salários, segue elevada.
Para o economista Sidnei Moura Nehme, especialista em câmbio da NGO
Corretora, a aceleração do ritmo de alta dos juros por parte do Banco
Central já considera um dólar mais alto ano que vem. O governo já mudou
sua logística para a política cambial. O dólar vai ser mantido alto e
vai ser a principal peça de reação para reverter a situação da indústria
e para proteger o setor agrícola. Acho que o governo vai manter o
dólar, de maneira sustentável, que tenha relação com os fundamentos
ruins do setor externo, declarou ele.
Dólar mais alto barateia importações e encarece as compras do exterior,
beneficiando a indústria nacional, embora também pressione ainda mais a
inflação. Com rigor, tem um impacto muito forte nas pressões
inflacionárias, acrescentou Nehme. Em 2014, o dólar já subiu cerca de
8%. Para o fim deste ano, Nehme prevê que a moeda norte-americana fique
em R$ 2,60, podendo subir ainda mais em 2015. Pesquisa do BC indica o
preço do dólar entre R$ 2,67 e R$ 2,70 no fechamento do ano que vem.
Choque de credibilidade
O economista da Ativa Corretora, Arnaldo Curvello, avaliou que uma alta
maior dos juros, para 11,75% ao ano, manda uma mensagem para o mercado
de que a equipe econômica será mais dura no segundo mandato da
presidente Dilma Rousseff - após a inflação ter ficado próxima de 6% em
todo o primeiro mandato, distante, portanto, da meta central de 4,5% que
foi fixada para este período.
A mensagem é que tem uma equipe mais dura, mais fiscalista [buscando
as metas de contas públicas] pelo lado do Ministério da Fazenda e mais
comprometida do lado da política monetária [definição dos juros para
conter a inflação]. Seria um alinhamento para tentar dar um choque de
credibilidade, declarou Curvello.
Flavio Serrano, economista do Banco Espírito Santo, avalia que o
cenário para a inflação é ruim e leva em conta não somente os preços
administrados, que, segundo o mercado, devem subir 7,20% em 2015, o
maior aumento em dez anos, como também outros fatores. O BC está
subindo os juros para melhorar balanço de riscos para preços livres.
Está tentando compensar um desequilíbrio na economia, declarou,
acrescentando que, em sua visão, o governo está buscando ganhar mais
credibilidade.
Para ele, porém, pelo fato de a economia estar registrando um
crescimento moroso (quase zero neste ano), seria mais eficaz o
governo cortar gastos públicos do que aumentar a taxa básica de juros.
O consumo das famílias e os investinmetnos desaceleraram bastante.
Subir juros piora ainda mais isso, e o gasto público continua muito
forte. Seria muito mais eficaz contrair o fiscal [cortar gastos] do que
apertar mais a política monetária [subir juros], declarou. Ele avaliou,
porém, que o efeito combinado das duas políticas (corte de gastos e
aumento de juros) é mais potente contra a inflação.