O resultado decepcionante da produção industrial em maio mudou o tom do mercado de juros futuros da BM&F. Após semanas sendo regido pela tríade formada por efeito inflacionário da alta do dólar, desconfiança com as contas públicas e temores da redução da liquidez global, os juros futuros passaram a refletir o crescimento anêmico da economia brasileira.
Sob o peso da queda de 2% da produção industrial em maio em relação a abril - tombo muito além do esperado -, os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) vergaram na BM&F. Em um pregão agitado, os investidores enterraram a aposta de que o Comitê de Política Monetária (Copom) poderia promover uma alta de 0,75 ponto percentual, para 8,75%, em seu encontro na próxima semana. O contrato com vencimento em janeiro de 2014 fechou a 8,84% (ante 8,95% anteontem), voltando aos níveis de quinze dias atrás. O DI para janeiro de 2015 encerrou o pregão a 9,67% (ante 9,9%). Entre os contratos com vencimento mais distante, o derivativo para janeiro de 2017 terminou o dia a 10,81% (ante 10,99%).
Pela leitura do mercado de juros futuros, a fraqueza da economia limitará a intensidade e a abrangência do aperto monetário em curso. Após o Copom surpreender o mercado e acelerar o passo no fim de maio com uma alta de 0,50 ponto da Selic no mesmo dia em que o IBGE anunciou o pibinho do primeiro trimestre, parecia que os dados de atividade teriam perdido a capacidade de ditar a formação de taxas nos juros futuros. O jogo seria ditado pelas expectativas de inflação cada vez maiores, na esteira da depreciação do real, e pelo temor de redução dos estímulos monetários nos Estados Unidos.
Ontem, mesmo com o dólar alçando voo até R$ 2,25 (alta de 0,85%), com uma arrancada no fim do pregão, os DIs seguiram em queda e fecharam perto das mínimas. A dinâmica do mercado de juros mudou completamente com o pregão de hoje, afirma Felipe Pianetti, estrategista para mercados emergentes do J. P. Morgan. Há duas semanas, a questão era se o governo faria um ajustes fiscal para ajudar o BC no controle da inflação. Agora, há uma desconfiança maior com o crescimento, que pode vir abaixo do esperado pelo consenso do mercado.
No boletim Focus de segunda-feira, a mediana das projeções apontava crescimento do PIB de 2,40%. Ontem, entre operadores e estrategistas de renda fixa, falava-se que 2% é o teto. Ou seja, a perspectiva é de um PIB mais magro, o que tira pressão sobre os preços. Segundo a equipe de economistas do Brasil Plural, comandada pelo ex-diretor do Banco Central Mario Mesquita, o resultado da produção industrial em maio reforça a perda de dinamismo da economia ao longo do segundo trimestre, em linha com o observado em outros indicadores. Como a atividade em junho foi provavelmente comprometida pelos protestos populares país afora, há o risco de um crescimento menor.
Para um estrategista de renda fixa que prefere não ser identificado, a perspectiva é que o consumo cresça a passos mais lentos. Já o investimento, que deveria ser o novo motor do crescimento, claudica, com a falta de confiança na condução da política econômica. Não há mercado de trabalho e renda que resistam a uma desaceleração mais pronunciada da atividade, afirma o estrategista.
Sem o suporte do consumo doméstico, a inflação tende a se acomodar, diz o estrategista. O BC vai seguir com o movimento de alta da Selic, mas não há motivo para cogitar um aperto mais forte do torniquete monetário.
Fonte: Valor Econômico