Um engenheiro brasileiro é o homem responsável por enxergar, com dez anos de antecedência, os rumos de uma das maiores empresas de tecnologia do mundo. Henrique Rico Malvar, 53 anos, formado pela Universidade de Brasília, lidera desde 1997 o laboratório de pesquisa da Microsoft. No comando de cerca de 350 pesquisadores, Malvar conduz o desenvolvimento de tecnologias que, em breve, podem tornar obsoletos teclados, mouses e até mesmo telas.
Entre as pesquisas do Microsoft Research Laboratory (MRL) estão dois projetos para tornar mais natural a interação entre seres humanos e computadores.
O primeiro, batizado de skinput, faz com que nossa pele se transforme em uma tela sensível ao toque. Pequenos projetores são acoplados a uma braçadeira, e exibem comandos no antebraço do usuário.
Com os dedos da outra mão, basta clicar no comando selecionado para fazer ligações, acessar a internet ou trocar a música de seu player de MP3, por exemplo.
Sensores instalados na mesma braçadeira medem a reverberação acústica produzida pelo clique em nosso braço. A cada batida do dedo na tela, as ondas chegam aos sensores, que indicam qual foi o comando selecionado, já que a reverberação é diferente de acordo com a área do corpo apontada pelo usuário.
No segundo projeto, os cliques tornam-se desnecessários. Uma série de eletrodos mede a atividade elétrica provocada pela movimentação dos músculos da mão do usuário. Essa técnica, conhecida como eletromiografia, permite identificar exatamente qual dedo é movimentado.
A vantagem é que você pode programar funções diferentes para cada cada extremidade: mexa o indicador para abrir seu email, o polegar para acessar seu site de notícias predileto, o anelar para ligar para sua esposa e o médio para desligar o computador, por exemplo. Na prova de conceito, os pesquisadores da Microsoft foram mais ousados e divertidos: que tal jogar Guitar Hero sem a guitarra? É o Air Guitar Hero.
ESTRUTURA ACADÊMICA
Os projetos comandados pelo brasileiro Rico Malvar, em parceria com diversas instituições de pesquisa ao redor do mundo, tentam desenvolver tecnologias que não necessariamente serão integradas à linha de produtos da Microsoft. Enquanto o laboratório de pesquisa e desenvolvimento da empresa trabalha no que chegará para o consumidor nos próximos dois ou três anos, nosso foco está em uma década para a frente, explica Malvar.
Cabe ao engenheiro, que mora há 13 anos nos EUA, decidir onde investir uma pequena parte dos cerca de US$ 9 bilhões da verba anual de pesquisa da Microsoft. Em contrapartida, a empresa fica com cerca de 10% dos resultados obtidos no MRL. Cerca de 90% é publicado, temos uma estrutura bem semelhante a um laboratório de uma universidade. E, para a academia, publicar é muito importante.
O MRL já publicou informações sobre sistemas operacionais que eventualmente devem substituir o Windows, linguagens computacionais para os equipamentos do futuro, sistemas para facilitar a interação de homens e robôs e algoritmos de análise automática de textos e fotos, entre outras áreas de pesquisa.
Eventualmente, no entanto, acontece de alguém na empresa identificar que os projetos do MRL podem servir para os produtos da empresa. Um rapaz veio aqui e se encantou com um sistema de câmeras que estavamos criando, e acreditou que aquilo poderia ser revolucionário no mercado de videogames.
O rapaz era o também brasileiro Alex Kipman, e a tecnologia acabou se transformando no kinect, sistema que elimina os joysticks e faz com que o corpo do jogador comande o game.
Fonte: G1