As recentes altas do dólar, que culminaram com o avanço de quase 1% na sexta-feira que levou a moeda à mais elevada cotação em três anos e meio, e a ausência de intervenções na ponta vendedora já começam a ser interpretadas por parte do mercado como indicação de ajuste para cima na banda cambial do Banco Central.
Notícias ruins no exterior e a expectativa de fluxo fraco, em conjunto com a menor oferta de dólares num período em que tradicionalmente aumentam as remessas de lucros por empresas estrangeiras, acabam se transformando em pretexto para que o mercado teste qual é o real teto da banda imposta ao câmbio nos últimos meses.
O mercado quer que o BC defina qual é o limite da banda, ele está chamando o BC e deve continuar a puxar o dólar para cima para ver quando ele entra, disse Tony Volpon, chefe de pesquisa de mercados emergentes da Nomura Securities. Segundo ele, a disposição do BC em deixar a moeda passar de R$ 2,08 sem intervir demonstra que a autoridade monetária pode estar ajustando para cima a banda cambial. Acho que entre R$ 2,05 e R$ 2,15 é o que eles acham melhor agora. Mas a construção de uma nova banda, como foi no caso da anterior, demanda algum esforço.
No fim das operações de sexta-feira, a moeda americana era cotada a R$ 2,082, com apreciação de 0,77% ante quarta-feira, e no maior patamar desde o dia 15 de maio de 2009, quando fechou a R$ 2,11. Essa foi a sexta alta do dólar em sete sessões, novamente superando um nível considerado por alguns operadores como limite para intervenções na ponta vendedora. Agora a dúvida é se o BC irá atuar ou não caso a divisa americana suba acima de R$ 2,10.
A expectativa no mercado é que a pressão sobre o dólar se mantenha até o fim do ano, independentemente dos testes do mercado para definir qual o real teto da banda do BC. A perspectiva é que os fluxos cambiais se mantenham fracos até a virada do ano, com aumento nas remessas de lucro.
As condições da economia brasileira mudaram ao longo de 2012. Isso acaba chamando a atenção do investidor externo, disse um operador de uma corretora paulista. O estrangeiro hoje pondera se realmente quer arriscar no Brasil se já vai perder na Europa. Isso espanta um pouco a possibilidade de mais entradas.
No momento que decidir entrar no mercado, o BC deve lançar mão das ferramentas que tem utilizado mais frequentemente, segundo profissionais do mercado. Apenas em último caso a autoridade monetária deve vender moeda à vista para segurar a cotação do dólar e, mesmo assim, apenas em caso de uma valorização muito forte e repentina.
Tem que haver uma combinação de desvalorização mais forte do real quando comparado a outras moedas e uma intensificação do fluxo negativo. O movimento teria de ser brusco. Aí sim acho que o BC venderia no spot, disse Flavia Cattan-Naslausky, estrategista de câmbio para a América Latina do Royal Bank of Scotland. Antes, o BC deixaria de rolar os swaps reversos que vencem em dezembro e, eventualmente, ofertaria swaps tradicionais.
No mercado de juros, a sexta-feira foi de realização de lucros e ampliação de posições vendidas, em resposta ao aumento na aversão a risco. Com taxas elevadas, investidores aproveitaram para embolsar parte dos ganhos das últimas sessões. O baixo volume no dia também contribuiu para potencializar o efeito das vendas sobre os DIs. A taxa do contrato de juros para janeiro de 2014 caiu de 7,4% para 7,38% na sexta, enquanto o papel para janeiro de 2015 teve recuo de 8,04% para 8,01%. (Colaborou José de Castro)
Fonte: Valor Econômico