A decisão, entretanto, não foi unânime. Cinco diretores votaram pela redução dos juros, mas três integrantes do Copom, que foram voto vencido, queriam a manutenção da taxa básica em 7,5% ao ao.
O presidente do BC, Alexandre Tombini, votou pelo corte, juntamente com os diretores Aldo Mendes (Política Monetária), Altamir Lopes (Administração), Luiz Awazu (Assuntos Internacionais e Regulação do Sistema Financeiro) e Luiz Feltrim (Relacionamento Institucional). Votaram pela manutenção o diretor Carlos Hamilton (Política Econômica), Anthero Meirelles (Fiscalização) e Sidnei Corrêa (Organização do Sistema Financeiro).
Com a queda, foi renovada a mínima histórica – ou seja, os juros atingiram o menor patamar já registrado em toda a série histórica do Banco Central, que começa em 1986. Até o momento, a menor taxa apurada era justamente de 7,5% ao ano.
Expectativas do mercado financeiro
A redução dos juros não confirmou a aposta feita pela maior parte do mercado financeiro na semana passada, divulgada pelo BC na última segunda-feira (8), por meio do relatório de mercado, também conhecido como Focus. A maior parte dos analistas consultados previa manutenção dos juros em 7,5% ao ano nesta quarta-feira.
Mesmo não sendo maioria na semana passada, quando foi feita a pesquisa do BC, boa parte dos economistas das instituições financeiras já acreditava que o BC reduziria os juros em 0,25 ponto percentual, de 7,5% para 7,25% ao ano, na reunião de hoje.
Nos últimos dias, porém, cresceu o número de analistas aposta em um novo corte de juros. Isso aconteceu após o discurso do diretor de Assuntos Internacionais da autoridade monetária, Luiz Awazu, que traçou, na última semana, um cenário pessimista sobre as perspectivas de crescimento dos países desenvolvidos nos próximos anos, e depois de o FMI ter divulgado perspectivas de crescimento mais comedidas para a economia global.
Segundo o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, a curva de juros [no mercado futuro] recuou nos últimos dias e estaria, inclusive, precificando [refletindo a aposta de instituições financeiras] um novo corte de juros por parte do Banco Central na reunião de hoje do Copom.
Ao fim do encontro, o Copom divulgou a seguinte explicação: Considerando o balanço de riscos para a inflação, a recuperação da atividade doméstica e a complexidade que envolve o ambiente internacional, o Comitê entende que a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta, ainda que de forma não linear.
Inflação X Crescimento
O prosseguimento no processo de corte dos juros básicos da economia acontece apesar da alta recente da inflação. Em setembro, por exemplo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) somou 0,57% - o maior valor para o mês desde 2003.
Na parcial de janeiro a setembro, o índice acumula alta de 3,77%, abaixo da variação de 4,97% no mesmo período do ano passado. Já em 12 meses, o IPCA tem alta de 5,28%, acima dos 5,24% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores.
Pelo sistema de metas de inflação que vigora no Brasil, o BC tem de calibrar os juros para atingir as metas pré-estabelecidas de inflação, tendo por base o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Para 2012, 2013 e 2014, a meta central de inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. No ano passado, o IPCA, ao somar 6,5%, ficou no teto do sistema de meta.
Para o economista Sidnei Moura Nehme, da NGO Corretora, a manutenção do processo de corte dos juros na reunião de hoje demonstra que o BC está preocupado com o crescimento da economia brasileira, que, segundo a autoridade monetária, deverá ser de 1,6% neste ano - o menor desde 2009. Ao reduzir juros, a autoridade monetária estimula a atividade econômica.
Ante a intensificação da percepção de que 2013 poderá ser um ano adverso para as economias emergentes, face a não recuperação das economias ditas desenvolvidas, e pior, com os programas de incentivos à retomada promovidos por estes países, contrariamente ao ocorrido por ocasião dos programas anteriores, não vir estimulando a valorização dos preços da commodities, é importante e relevante que o governo persista em estimular o investimento na economia brasileira, avaliou Nehme em comunicado.
BC´s ao redor do mundo
Além disso, segundo analistas, o BC brasileiro, em linha com a forma de operar de outras instituições ao redor do mundo, tem deixado um pouco de lado a chamada atuação clássica da política monetária, ou seja, com foco apenas na inflação, e se preocupado também com o crescimento da economia brasileira. Na última reunião do Copom, no fim de agosto, os juros caíram mesmo com a perspectiva de alta da inflação em 2012.
Outros bancos centrais ao redor do mundo, como nos Estados Unidos, Europa e Japão, também têm demonstrado, com políticas de injeção de recursos nos mercados financeiros, uma preocupação menor com a inflação em busca de um crescimento mais alto do PIB e aumento do número de empregos.
O BC brasileiro está sim demonstrando um pouco mais de flexibilidade [com as metas de inflação]. Isso acontece em um momento de muita incerteza no cenário internacional, e com outros BC´s mais flexíveis. Mas a situação no Brasil, do ponto de vista de inflação, é pior. A gente deveria tornar essa flexibilidade temporária e não em uma política de descumprimento de metas, o que passaria uma mensagem de leniência com a inflação, avaliou Silvio Campos Neto, da Tendências.
Rendimento da poupança
O corte dos juros básicos por parte do Banco Central reduz, novamente, a rentabilidade da poupança. Pelas novas regras definidas pelo governo, a poupança passou a ser atrelada aos juros básicos da economia, rendendo 70% da aplicação, mais a Taxa Referencial, quando a taxa básica estiver abaixo de 8,5% ao ano.
Com juros em 7,25% ao ano, a poupança será remunerada em 5,07% ao ano mais TR, contra 5,25% ao ano (acrescida da TR) quando os juros estavam, por exemplo, em 7,5% ao ano. Antes da mudança das regras, a poupança rendia, pelo menos, 6,17% ao ano, mais TR. Na poupança, porém, não é cobrada taxa de administração e nem Imposto de Renda (IR) - ao contrário dos investimentos em fundos. Os recursos podem ser sacados a qualquer momento.
Fonte: G1