O setor de veículos foi beneficiado com uma redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na última segunda-feira, embora produtos de outros segmentos, com alíquotas mais altas, não tenham tido a mesma sorte. Segundo o governo, o setor é fundamental, pois representa cerca de 20% do Produto Interno Bruto (PIB), mas de acordo com analistas, a medida deveria ter sido levada a outros segmentos para efetivamente conseguir estimular o consumo no País.
As novas alíquotas do IPI, válidas até 31 de agosto dentro do regime automotivo, vão diminuir em cerca de 10% o preço dos carros, conforme informações da assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda. Para carros de até 1.000 cilindradas, o IPI caiu de 7% para zero. Para veículos com 1.000 mil a 2.000 mil cilindradas flex, o IPI caiu de 11% para 5,5%. Para carros com essas mesmas cilindradas, mas que usam gasolina, o IPI passou de 13% para 6,5%. No caso de veículos utilitários, a queda foi de três pontos percentuais (de 4% para 1%).
Para o professor de economia da Universidade de São Paulo (USP) Fabio Kanzuk, o governo tomou a medida porque a economia está mais devagar no segundo trimestre deste ano do que era previsto pelo mercado. No entanto, segundo ele, a diminuição da alíquota deveria ter sido horizontal - voltada a todos os setores. O setor de fato está caminhando mal esse ano, mas outros também estão e deveriam ter os mesmos benefícios. Não dá para escolher, diz.
Conforme informações do ministério da Fazenda, o setor de vestuário tem alíquotas de IPI que chegam a 40%, enquanto o setor de bebidas tem produtos taxados em 60%. Mesmo no setor de veículos, há produtos com alíquotas de até 35%, como ocorre no caso de alguns tipos de motocicletas. Nenhum desses produtos foi beneficiado pela medida. O capitalismo não precisa desse tipo de ingerência, explica o professor.
De acordo com o economista e educador financeiro Ofir Viana Filho, o endividamento do brasileiro está em um patamar tão elevado que a mudança de alíquota para um bem de consumo de alto custo não deve ser eficiente para estimular a economia. Dificilmente essa alteração vai gerar reflexo no consumo já que o brasileiro está endividado e sem poder de compra, conta. A classe média, que dá sustentação ao governo, é exatamente a classe que está sendo punida com a crise e que está inadimplente. O consumidor vai ter que olhar bem para o bolso antes de sair para comprar carros, explica.
O ministério da Fazenda afirma que a medida contribuirá para melhorar a oferta de crédito e permitirá que o setor retome o bom desempenho dos últimos anos. A expectativa é que, assim, sejam estimulados os investimentos do setor produtivo. É mais uma medida para garantir a continuação do crescimento econômico num momento de crise internacional, afirmou o ministro da pasta, Guido Mantega. A redução foi tão grande que deve ter algum impacto, mas não vai resolver o problema, discorda Viana Filho.
Confira o IPI incidente em outros produtos:
Alimentos (leite, ovos, carne) - 0%
Chocolates e gomas de mascar - 5%
Cimento - 5%
Xampus e condicionadores - 7%
Aviões - 10%
Barcos - 10%
Bicicletas - 10%
Brinquedos - 10%
Canetas esferográficas - 20%
Despertadores - 20%
Vara de pesca - 20%
Patins - 20%
Vinhos - 20%
Maquiagem - 22%
Refrigerantes - 27%
Motocicletas - de 15% a 35%
Fógos de artifício - 30%
Pérolas - 30%
Cerveja e chop - 40%
Isqueiros - 40%
Perfumes - 42%
Revólveres - 45%
Aguardentes - 60%
Cigarros e charutos - 300%
Fonte: Terra
Escrito por: Bruna Saniele