Faixa dos 18 aos 24 anos é a que tem o maior aumento de empreendedores no país
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Breno Coelho, de 24 anos, e Roberto Leão, de 23, têm muito mais em comum que sobrenomes que rementem a animais. Em 2010, ambos pediram demissão do emprego e montaram o próprio negócio. Breno constatou que o mercado imobiliário em Belo Horizonte não para de crescer e fundou a Ekipaminas, especializada em aluguel de máquinas para a construção civil. Seu faturamento em 2012 deve aumentar 25%. Já Roberto aproveitou a fama de BH, de ser a capital dos botecos, e criou a cervejaria Lowen Beer. Sua produção, atualmente em 2 mil litros mensais, deve atingir 5 mil litros em dezembro e, no fim de 2013, 10 mil litros.

O sucesso que os dois jovens trilharam com as próprias pernas e ideias não é exclusivo deles. Estudo batizado de Global Entrepreneurship Monitor (GEM), organizado pelo Global Entrepreneurship Research Association, composto pela London Business School, na Inglaterra, e pelo Babson College, nos Estados Unidos, apurou que, no Brasil, o total de jovens entre 18 e 24 anos que decidiram apostar no empreendedorismo cresceu 74% entre 2002 e 2010, ano em que Breno e Roberto mudaram suas vidas. Em 2002, 10% da população da faixa etária entre 18 e 24 anos integravam a chamada taxa de empreendedores em estágio inicial (TEA). Em 2010, o percentual subiu para 17,4%.

Nenhuma outra faixa etária país obteve crescimento maior (veja quadro) no país. Apenas para esclarecer: a TEA é o indicador que apura o total de empresas com até três anos e meio de existência. “Há uma mudança no mercado de trabalho e no comportamento dos jovens. Eles estão buscando mais autonomia, se preocupando mais com a independência (financeira) e desejando um crescimento profissional rápido”, avalia Cacilda Almeida, analista do Sebrae e coordenadora do Desafio Sebrae em Minas, competição em que universitários simulam a concorrência entre empresas num mercado virtual.

Breno e Roberto também são universitários. O primeiro, estudante do último período de engenharia de produção, se cansou de trabalhar como supervisor de um hospital da capital, onde estava há seis anos, e decidiu dar uma guinada na vida com a criação da Ekipaminas. “Alimentei o sonho de ser dono do meu próprio negócio durante vários anos. Quando decidi sair do hospital, pesquisei o mercado de construção civil, avaliei riscos e tive coragem. No ano seguinte, montei a segunda empresa, a Loja da Fábrica, que vende vestuário. Nesse caso, aproveitei que meu tio tem uma confecção e me vende (mercadoria mais barata)”, disse.

Roberto, por sua vez, é estudante de estatística, mas também sonhava administrar o próprio negócio. Em 2008, quando estourou a crise mundial, ele testemunhou, inerte, a demissão de vários amigos na agência bancária em que trabalhava. “Foi aí que pensei: não vou ficar aqui parado, esperando ser vítima de uma próxima crise.” Dois anos depois, pediu demissão do emprego, se matriculou num curso de fabricação de cerveja artesanal e montou a Lowen Beer, cujo nome é a tradução de seu sobrenome para o alemão. “Investi R$ 20 mil no projeto. Quem decidir montar o próprio negócio tem de pesquisar muito o mercado.” Aliás, lembra ele, a palavra mercado, nesse caso, é ampla: envolve concorrência, marketing, tributação etc.

O jovem Gustavo Zarife, de 22 anos e descendente de libanês, é outro jovem que ainda não concluiu o ensino superior – ele estuda publicidade –, mas não abre mão do próprio empreendimento. Em sociedade com a irmã, Isabela, de 25, ele administra o bufê Café do Pedro, nome que homenageia o avô, fundador da padaria Pedro Padeiro. Desde adolescente, ele sabia que não iria ganhar a vida trabalhando para os outros. Em 2006, aos 16 anos, venceu as etapas estadual, nacional e continental de um concurso de empreendedorismo patrocinado pelo Citibank. “Nosso faturamento cresceu 13% em 2011 e a alta deve chegar a 20% em 2012”, acredita Gustavo, que tem como clientes o governo de Minas, a Prefeitura de BH e grandes bancos, como o Santander, Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal.

Parte do segredo do leque de clientes famosos, revela Gustavo, é conhecer a fundo a atividade. “Desempenho vários papéis dentro do bufê. Quando é preciso, eu sou o motorista, o garçom. Outra estratégia é tratar os funcionários como parceiros. A empresa é como se fosse filho meu e da minha irmã. Quando um cliente fica insatisfeito, há uma sensação de luto. Isso não pode ocorrer”, ensina.

Negócio de maluco

Os amigos Felipe Galvão, Pedro Gusmão e Lucas de Castro, todos com 23 anos, sabem bem disso. Em fevereiro, o trio montou a empresa Açaí Maluco, que fabrica uma bebida alcoólica à base do fruto. O drink já é negociado em grandes casas noturnas da capital, além de vendido em eventos. “Achamos a fórmula ideal depois de vários testes.” Estudante de administração e de educação física, Felipe juntou o conhecimento dos dois cursos no dia a dia da empresa. No de administração, ele aprendeu a tarefa de gerenciar o empreendimento. No de educação física, constatou que o açaí é o fruto do momento, principalmente entre os frequentadores de academias.

Seu sócio Pedro Gusmão, matriculado em engenharia, contribui com o que aprendeu nos dois anos em que morou nos Estados Unidos e na Austrália, “países em que os jovens têm a cabeça no empreendedorismo”. Lucas de Castro, outro matriculado em educação física, também colabora, com a experiência de já ter uma empresa. Antes da Açaí Maluco, ele fundou a Animagia, voltada para eventos. “Trabalhei como monitor de festas de crianças e percebi que os pais gostavam das brincadeiras que eu fazia. Decidi, então, ter o próprio negócio. Hoje, faço eventos em praticamente todos os fins de semana.”

Quem é o patrão?

Confira como evoluiu o percentual de empreendedores por idade

Faixa etária 2002 2010 Aumento

18 a 24 anos 10% 17,4% 74%
25 a 34 anos 18,6% 22,2% 19,3%
35 a 44 anos 15,2% 16,7% 9,8%
45 a 54 anos 12,1% 16,1% 33%
55 a 64 anos 6% 9,5% 58,3%

Sete dicas de ouro

Conselhos dos jovens empresários

>> Planejamento

Empresas bem-sucedidas não nascem por impulso. É preciso pesquisar o setor em que deseja investir, o que leva em conta uma programação de aporte a ser feito. As legislações trabalhista e tributária também precisam ser estudadas a fundo.

>> Dedicação

Se os olhos do dono são responsáveis por engordar os porcos, com empresas não é diferente. Dedicação ao empreendimento é essencial para o sucesso.

>> Endereço

A localização da empresa conta muitos pontos, principalmente se a atividade escolhida for do ramo comercial. Ruas com pouco movimento, por tabela, também têm pouco potencial de público. O diferencial e a qualidade do produto, porém, podem reduzir ou até mesmo anular o baixo índice de pedestres no endereço.

>> Análise da concorrência

Não basta estender o tapete vermelho ao público, é preciso sempre estar de olho na concorrência. Vender produtos e/ou oferecer serviços de qualidade inferior são, muitas vezes, senhas para o fracasso.

>> Domínio da cadeia produtiva

Dono do próprio negócio, ainda mais em se tratando de pequeno empreendedor, precisa conhecer todas as etapas da produção, evitando que o erro de uma área contamine outra.

>> Tecnologia

Investir em tecnologia, nos dias atuais, é obrigação.

>> Registro do empreendimento

O sucesso não é alcançado por empresas informais.
 
 

 
Fonte: em.com.br
Escrito por: Paulo Henrique Lobato

Data: 23/04/2012 às 08h55
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