Após os principais bancos privados cederem à pressão do governo para reduzir o custo dos empréstimos no país, a equipe econômica deverá destravar a implementação do cadastro positivo, uma central com informações sobre bons pagadores.
Está pronta uma regulamentação para tentar fazer com que o cadastro funcione. A expectativa é que a medida, que consta da lista de propostas apresentada pelos bancos, seja divulgada nos próximos dias, após um análise da área jurídica do Ministério da Fazenda e o aval do ministro Guido Mantega.
Os bancos querem maior rigor na criação das centrais que vão administrar os dados dos consumidores. Isso porque todos os envolvidos respondem de forma solidária pelas informações. As instituições temem ser responsabilizadas em caso de uso indevido dos dados.
Para resolver essa questão, uma proposta é estabelecer a necessidade de certificação dos bancos de dados.
Na Fazenda, há o receio de limitar demais e acabar fazendo com que haja um monopólio nessa área quando a ideia inicial era justamente estimular a criação de várias centrais concorrentes.
Em Washington para reunião do FMI, Mantega afirmou que saúda a mudança na política de juros.
Nós estamos no bom caminho. Há uma reação muito positiva do setor financeiro a essa demanda que foi feita pela redução dos spreads e pelo aumento no crédito.
Novas reduções
Enquanto isso, o governo segue na ofensiva pela queda dos juros. Ontem, o Banco do Brasil anunciou novo corte nas suas taxas para empresas e pessoas físicas.
Segundo o vice-presidente de Negócios de Varejo, Alexandre Abreu, parte de decisão foi por causa da redução na taxa Selic promovida pelo Banco Central, na véspera.
No entanto, em algumas linhas que já tinham sido reduzidas no início do mês, houve novo ajuste em razão do aumento na procura.
Quando reduzimos o juros, estimávamos um aumento nas concessões diárias para pessoas físicas em torno de 20% e a procura aumentou 45%, afirmou.
A Caixa Econômica Federal vai ampliar em uma hora o horário de atendimento das agências, a partir da semana que vem até o dia 11 de maio. Isso para atender pedidos por crédito com juros mais baixos e prestar explicações aos consumidores.
Colaborou Verena Fornetti, enviada especial a Washington
Concorrência faz banco privado gastar mais
Escrito por: Gustavo Patu
Em disputa pelo posto de maior banco privado do país, Itaú e Bradesco elevaram seus quadros de pessoal e suas despesas administrativas nos últimos anos.
Segundo os balanços das duas instituições, a expansão de custos comprometeu os indicadores de eficiência, o que torna mais problemática a decisão de atender às pressões do governo Dilma Rousseff pela redução dos juros cobrados dos clientes.
Depois de anunciar a fusão com o Unibanco, no fim de 2008, o Itaú acirrou a corrida ao ultrapassar o rival e assumir o primeiro lugar do ranking bancário em volume de ativos -ou seja, no total de operações e patrimônio.
O meganegócio significou, é claro, mais clientes, mais oportunidades e maior fatia do mercado. Mas também implicou despesas com funcionários, agências e sistemas de informática que, nos últimos dois anos, cresceram mais que as receitas totais.
Essa relação é medida pelo índice de eficiência, que compara os gastos administrativos com os ganhos obtidos com empréstimos, tarifas bancárias e outras fontes.
No Itaú, o indicador mostrou piora aguda de 2009 para 2010, quando passou de 42,4% para 49,1% -o que significa um gasto de R$ 0,49 para obter cada R$ 1 de receita.
Houve melhora em 2011, e o índice ficou em 47,7%. Promete-se aos acionistas chegar a 41% até o fim de 2013.
Em tese ao menos, esse objetivo ficou mais difícil a partir da decisão, divulgada anteontem, de baixar as taxas de operações como financiamento de veículos, cheque especial e linhas de capital de giro para empresas.
Tomada após a queda dos juros nos estatais Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, a medida tende a reduzir as receitas esperadas com a concessão de crédito.
No Bradesco, que acompanhou o concorrente na redução das taxas, a máquina administrativa vem crescendo a taxas ainda mais altas, embora com impacto menor no índice de eficiência.
Ranking
Ao fim do ano passado, após uma série de inaugurações, o Bradesco reassumiu a liderança do ranking privado em número de agências -que, desde 2009, teve um salto de 34% e chegou a 4.634, só inferior ao do BB.
A expansão implicou mais contratações, e o quadro de pessoal saltou de pouco mais de 80 mil para quase 100 mil funcionários no período, segundo dados disponíveis no Banco Central.
O aumento das receitas compensou somente parcialmente a alta dos custos, e o índice de eficiência passou de 40,5% para 43%.
Procurados pela Folha, Itaú e Bradesco informaram que não poderiam comentar os dados, em razão da proximidade da divulgação de balanços trimestrais.
Análise
Setor bancário brasileiro lucrou mais que o dos EUA pelo 8º ano
O governo está convencido de que a estratégia deflagrada com a queda dos juros dos bancos oficiais para pressionar as instituições privadas fará com o que sistema bancário nacional se aproxime mais dos padrões de outros países, onde as instituições financeiras emprestam muito a um custo menor.
No Brasil, alegam interlocutores do ministro da Fazenda, Guido Mantega, a lógica é inversa. Nos últimos anos, o forte crescimento das concessões de crédito se deu com a cobrança de juros elevados, o que engordou o lucro dos bancos de forma rápida e expressiva.
Pelo oitavo ano consecutivo, o sistema bancário brasileiro registrou uma rentabilidade maior do que os dos Estados Unidos, de acordo com levantamento da consultoria Economatica.
Em 2011, a rentabilidade das instituições financeiras americanas chegou a 7,63%. No Brasil, foi de 13,97%.
Além do crescimento do crédito, os ganhos com tarifas e títulos públicos também ajudam no desempenho desse mercado no país.
Segundo o levantamento da Economatica, o setor bancário foi o que teve maior lucro líquido em 2011 entre as empresas de capital aberto de outros 22 setores.
Nessa comparação são excluídos os resultados da Vale e da Petrobras.
Os 25 bancos brasileiros de capital aberto acumularam lucro de R$ 49,4 bilhões no ano, um crescimento de 14,48% em relação a 2010.
Fonte: Folha de S.Paulo / por Fenacon
Escrito por: Sheila D’Amorim