Mais do que reter talentos para driblar a falta de mão de obra qualificada, as empresas iniciaram um novo movimento constatado nas áreas tributária e fiscal: a disseminação de talentos.
Consultores de Recursos Humanos e do setor fiscal explicam que, na prática, isso significa contratar um profissional mais qualificado, com salário na faixa de R$ 20 mil, para dividir seu conhecimento e experiência com integrantes de sua equipe.
Henrique Gasperoni, diretor de projetos e operações do Confeb (Conselho Fiscal Empresarial Brasileiro), diz que o movimento se intensifica em empresas de vários setores para baratear o custo com mão de obra na área fiscal.
Reportagem publicada pela Folha no último domingo mostra que os salários de profissionais que atuam nesses departamentos aumentaram até 30% nos últimos dois anos.
O que temos visto é a empresa contratar profissionais com mais de dez anos de experiência com salários na faixa de R$ 15 mil a R$ 20 mil e usá-los para treinar a equipe. É a chamada disseminação de talentos, diz Gasperoni.
O principal fator que tem levado empresas a optarem por tal prática é o chamado apagão de talentos na área fiscal, segundo pesquisa feita pelo Confeb com 600 executivos de empresas de todo o país, com faturamento acima de R$ 100 milhões.
Sete em cada dez empresas que participaram do levantamento consideram a qualificação na área fiscal um problema sério a ser resolvido. Somente 23% dizem que o problema pode ser contornado e 7% não consideram o tema de fato um problema.
O profissional que deixa a faculdade e ingressa em uma empresa não está preparado para a realidade, não tem experiência com novos sistemas implementados, como a nota fiscal eletrônica e o Sped (Sistema Público de Escrituração Digital), afirma o presidente da Abracont (Associação Brasileira dos Contabilistas), Valdir Jorge Mompean.
Por essa razão, 80% das empresas levam em conta o tempo de experiência na área para contratar um profissional. Somente 9% se baseiam na formação e consideram o curso superior do candidato, segundo pesquisa do Confeb. Outros 6% levam em conta cursos, workshops e treinamentos que o candidato tenha participado. E 5% das empresas optam por profissionais inexperientes.
Mudanças na Legislação
Além da qualificação, outros dois fatores são apontados pelas empresas para pressionar o custo da contratação: as mudanças constantes na legislação tributária e a adoção de sistemas digitais mais complexos exigem mais gastos com a admissão de executivos mais experientes em seus quadros.
As empresas têm de ter profissionais responsáveis apenas por monitorar mudanças na legislação. Existem também consultorias que fazem este trabalho, dependendo do porte da empresa, a contratação de uma consultaria é mais recomendada, diz Gasperoni. Muitas vezes uma mudança pode mudar radicalmente o modelo financeiro de uma empresa. Por isso,o monitoramento é fundamental.
Segundo os especialistas, o tamanho das equipes no setor fiscal também cresceu. Empresas de médio porte tinham em média cinco profissionais em departamentos que cuidam de assuntos tributário e fiscal. Agora, estão com oito ou nove pessoas. Por isso, os profissionais também estão sendo mais disputados, diz Mompean.
É justamente essa disputa para contratar ou manter profissionais que tem impacto direto nos salários, afirma Gasperoni.
Se uma empresa não tem os profissionais adequados não consegue crescer e competir. Paga mais para ter um bom profissional dessa área fiscal e tributária, porque, se ele consegue fazer um planejamento tributário adequado, a empresa sabe que poderá economizar até milhões, diz Marcelo Ferrari, diretor de negócios da Mercer, a maior consultoria de RH do mundo.
Perfil
A pesquisa do Confeb apontou também que a maior parte dos profissionais das áreas tributária e fiscal tem entre 22 e 28 anos. E sete em cada dez dos que atuam nas empresas têm formação em Ciências Contábeis, 20% em Administração e 5% em Direito.
Dados do setor de educação mostram que 37 mil pessoas concluem o curso de Ciências Contábeis por ano no país. Hoje 490 mil pessoas atuam na área fiscal nas empresas, de acordo com os conselhos Federal de Contabilidade (CFC) e o Regional de Contabilidade de São Paulo (CRC).
Wellington Vasconcelos passou do balcão de atendimento de um escritório de contabilidade para o setor tributário da empresa Catupiry e só após sete anos foi para a faculdade estudar Ciências Contábeis.
Contratado em 2008 como analista fiscal na Catupiry, hoje, com 25 anos, ocupa o cargo de supervisor.
Tentaram por duas vezes contratar um profissional para o cargo, mas não deu certo. O retorno não foi como a empresa esperava. Ocupei a vaga e com a promoção o meu salário dobrou, diz.
A experiência na área já rendeu convites de concorrentes ao profissional, mas Vasconcelos dispensou as oportunidades: Ainda há chances de crescer, me aprimorar e executar minha função onde estou.
Subir mais rápido
Com o mercado aquecido e profissionais qualificados em falta, os funcionários do setor fiscal que investem em sua qualificação têm a possibilidade de ascender a cargos de chefia de forma mais rápida, quando comparados a outros setores, como vendas ou recursos humanos.
Com cinco anos de experiência, esse executivo é disputado e tem maturidade para assumir um cargo de gerência e liderar uma equipe, diz Ferrari, da Mercer.
A gerência de planejamento tributário (inclui administração financeira, contábil e jurídica) lidera há dois anos ranking de salários mais valorizados entre 13 gerências das empresas, segundo levantamento da Mercer no banco de empresas da consultoria.
Fonte: Folha UOL
Escrito por: Claudia Rolli