Mercado perde dinheiro com sinalização do BC
Compartilhar:

O Banco Central está surpreendendo pela sua transparência. Desta vez ele deixou muito claro, pela ata da última reunião do Copom, que a taxa básica de juros não deve cair abaixo de 9% ao ano. O problema é que o mercado acreditava que os diretores do BC poderiam levar os juros abaixo disso e investiram nesta posição.

Com a forte e claríssima sinalização do BC, as taxas negociadas no mercado tiveram que se reajustar para cima e os investidores perderam dinheiro. O humor deles não deve estar dos melhores.

A estratégia do BC pode ser explicada por algumas frentes de análise. Uma delas é com relação à sustentabilidade de um juro mais baixo na nossa economia. Quanto tempo poderemos desfrutar de uma taxa de um dígito sem ter que mudar de lado bruscamente para corrigir os rumos?

Quando chegamos a 8,75%, entre julho de 2009 e abril de 2010, o quadro era bem diferente do que temos hoje.

Naquela época o governo inteiro trabalhava para levantar o PIB sofrido e negativo por causa da crise financeira de 2008. Era também tempo de eleição e, como todos já sabem, o governo abriu os cofres e aumentou muito os gastos públicos. Resultado: tivemos uma economia rodando em níveis chineses, aquecida até demais, levando a inflação para as alturas.

Hoje, a mistura de ingredientes que sinalizam qual a taxa de juros que não gera desequilíbrios na economia é bem diferente. Pode não ser a ideal, dependendo do humor dos analistas.

Em economia, é bom evitar comparar os números absolutos em tempos distantes. Os juros de 9% de agora podem ter um efeito menos nocivo do que os 8,75% de 2009/10, porque o BC conta, primeiramente, com ajuda das medidas macroprudenciais, aquelas que evitam o afoite dos mercados e dos consumidores. A política fiscal também é outra. O ministério da Fazenda tem se comprometido a manter os gastos sob rédea curta e a cumprir as metas de poupança para o pagamento dos juros da dívida, o chamado superávit primário.

Dito tudo isto, é possível que o BC vá ousar menos do que o mercado gostaria porque está vendo um caminho mais longo e mais seguro para que o país possa ter uma taxa de juros de um dígito por mais tempo.

E a inflação? Este calcanhar de Aquiles dói mais no pé dos economistas do que no de Alexandre Tombini, presidente do BC. O Copom mantém a crença de que o ambiente internacional vai ajudar a derrubar a nossa inflação e que o esfriamento recente da nossa economia será suficiente para levar o índice mais perto da meta de 4,5% ao ano.

Se os juros a 9% forem mais sustentáveis mesmo, pode ser que o BC não precise voltar a subir a taxa ainda este ano (como o mercado esperava) para controlar as expectativas da inflação do ano que vem, que ainda rodam acima da meta.

Com bom humor ou mau humor, o mercado se mexe para acomodar suas apostas a partir do que disse o BC nesta quinta-feira (15). Deixando os sentimentos de lado, a visão sobre o futuro ainda não está tão clara aqui fora quanto parece estar para os diretores do Copom, principalmente com relação à trajetória da inflação, um dragão malvado que assusta a economia brasileira há décadas.

Talvez a visão panorâmica de que eles desfrutam do oitavo andar do prédio do BC em Brasília (é realmente uma bela vista da cidade) esteja dando a eles um horizonte mais longo e sem dragões ou outros monstros à vista.

 

Fonte: G1


Data: 16/03/2012 às 07h48
Nós usamos cookies para melhorar sua experiência de navegação no portal. Ao utilizar o crcse.org.br, você concorda com a Política de Privacidade e a Política de Cookies. Para ter mais informações sobre como isso é feito, acesse Política de Cookies. Se você concorda, clique em ACEITO.