O recuo da inflação e a retomada da economia, ainda que modesta, deram novo fôlego aos aumentos de salários nos últimos meses.
Os reajustes, que já vinham se recuperando no final de 2011, ficaram ainda mais polpudos no início deste ano, indica pesquisa do Bradesco obtida pela Folha.
Segundo levantamento do banco com empresas clientes, as companhias concederam aumentos reais (ou seja, acima da inflação) de 4% em média em janeiro e fevereiro, patamar bem acima dos observados em 2010 e 2011.
A alta dos preços e o esfriamento da economia em 2011 reduziram os ganhos reais, que ficaram em média em 1,5% no ano, abaixo do resultado de 2010 (2%), segundo a pesquisa do banco.
De acordo com o economista do Bradesco Leandro Negrão, este ano deve ser mais favorável aos trabalhadores. Ele explica que a baixa taxa de desemprego e a esperada retomada mais forte da economia a partir do segundo semestre manterão os ganhos de renda acima da inflação.
Além disso, pesquisas já apontam para uma recuperação da confiança do empresariado neste ano. O otimismo do setor privado com o futuro da economia torna mais fáceis as negociações.
Negrão não acredita, porém, que os reajustes continuem tão altos ao longo de 2012 como no primeiro bimestre do ano.
O Bradesco mensalmente ouve cerca de 3.000 clientes para saber como está a atividade econômica. Os primeiros dados de 2012 referem-se a 185 empresas que já deram reajustes e quiseram passar a informação ao banco.
Os dados são preliminares. Eles apontam para uma clara recuperação dos reajustes desde novembro, mas é cedo para dizer que a tendência para o ano é de ganhos reais acima de 3%, diz.
A indústria está indo mal e o lucro do setor não está subindo tanto, acrescenta.
Os ganhos reais maiores se devem tanto à aceleração dos reajustes quanto à queda da inflação. Nos dois primeiros meses do ano, os salários cresceram cerca de 9,5% nas empresas consultadas, resultado superior aos dos anos anteriores. Já a inflação girou em torno de 5,5%, abaixo da média de 2011 (6,6%).
Além disso, o forte aumento do salário mínimo, que subiu 14% neste ano, eleva a pressão por altas maiores nos pisos das categorias, diz José Silvestre, coordenador de relações sindicais do Dieese.
Os dados do Bradesco mostram que os ganhos salariais estão aquecidos em todos os setores, com destaque para serviços e construção civil.
Retomada
Segundo Negrão, a alta da renda dos trabalhadores vai jogar mais combustível na recuperação econômica, que será puxada principalmente pelo consumo doméstico.
A expectativa, lembra, é que a atividade se aqueça mais a partir do segundo trimestre, reagindo também a medidas de estímulo do governo como redução da taxa básica de juros. Com isso, analistas acreditam que a inflação voltará a subir no final do ano, comprometendo novamente os ganhos reais.
Indústria tem aumentado salário mesmo com produção em queda
Os salários têm subido com força mesmo na indústria, cuja produção vem recuando nos últimos meses. Segundo o levantamento do Bradesco, que abrange 90 empresas do setor, o ganho real na indústria ficou em média em 3,8% no primeiro bimestre.
Isso ocorre por causa da baixa taxa de desemprego, explica José Márcio Camargo, professor da PUC-Rio e economista-chefe da Opus.
Como a oferta de mão de obra segue apertada, diz, a indústria concede reajustes altos para não perder o funcionário para concorrentes.
O problema, observa ele, é que a combinação de aumentos salariais elevados e produção cadente significa produtos mais caros e menos competitivos frente aos importados.
O encarecimento da mão de obra é um fator importante que vai atrapalhar o crescimento da indústria, limitando a expansão do país a cerca de 4% nos próximos anos, acredita Camargo.
Cálculos do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) mostram que a produtividade (ou seja, quanto é produzido por hora trabalhada) recuou 0,2% na indústria em 2011. Foi o segundo pior desempenho em dez anos. (MS)
Fonte: Folha de S.Paulo / por Fenacon
Escrito por: Mariana Schreiber