O jornal mais respeitado do mundo financeiro está acompanhando bem de perto o que se passa no Brasil. Em menos de dois dias, a publicação dedicou um editorial, uma reportagem sobre o corte nos juros e dois artigos no blog sobre os países emergentes, chamado Beyondbrics (além dos Brics – acrônimo para Brasil, Russia, Índia, China e África do Sul).
No Beyondbrics, onde os jornalistas podem escrever “mais à vontade”, as críticas ao Brasil são mais duras e até irônicas.
O jornalista Jonathan Wheatley, em artigo publicado nesta quinta-feira (08), começa logo indagando: “Economia errática do Brasil, por que se preocupar?” O texto é quase que um complemento, e uma dose a mais de provocação, ao que foi escrito pelo jornalista Joe Leahy um dia antes, quando chamou o crescimento do Brasil de “voo de galinha”.
Jonathan Wheatley diz que o país recebeu um “impulso turbinado para a galinha brasileira” depois que o Banco Central baixou os juros para 9,75% ao ano.
“A economia bem sucedida do Brasil, que cresceu 7,5% em 2010, voltou para a terra (em uma referência ao PIB de 2,7% em 2011) e o Banco Central, pela insistência do governo, está determinado a fazê-la voar novamente”, diz o artigo.
Se o Brasil vai decolar novamente, o jornalista Joe Leahy tem dúvidas.
“Então, a galinha vai voar novamente este ano? E ela será capaz de voar pelo menos tão bem quanto um falcão, mantendo uma constante, senão um ritmo chinês de crescimento? A resposta é não. Pelo menos não neste momento. As ineficiências do Brasil, como o orçamento inchado do governo que, com todos os seus gastos, deixa de investir, vão segurar o país abaixo de uma trajetória de crescimento até que alguém comece a pensar em reformas”
No artigo desta quinta-feira, Wheatley dá mais justificativas para acreditar que o Brasil não vai transformar sua “galinha” em um pássaro mais pomposo.
“O Brasil tem uma pobreza generalizada e serviços públicos de má qualidade. De fato, muitas pessoas da classe média do país que está em ascensão, paga duas vezes – uma em impostos e uma segunda vez para o setor privado – para ter bens públicos básicos como segurança, educação e saúde”, afirma o jornalista do “FT”.
A ressalva, segundo ele, é que o os brasileiros, “para sorte do governo, não reclamam muito”. Wheatley afirma que estamos orgulhosos do nosso momento mais emergente e em “estágio global e felizes com a oferta de crédito barato fornecido pela política monetária frouxa do mundo desenvolvido e uma enxurrada de importados baratos para se gastar com eles”.
É difícil para os jornalistas admitirem que o Brasil ultrapassou a Inglaterra, alcançando o posto de sexta maior economia do mundo.
“Nós respondemos que, para uma economia desenvolvida como a do Reino Unido, 2,7% de crescimento (PIB Brasil 2011) seria estimulante e até mesmo perigosamente veloz, enquanto que para o Brasil não é muito e para a China seria o desastre total”, afirma Jonathan Wheatley.
O artigo termina com um desafio imposto ao Brasil, se o país quiser deixar de voar como uma galinha.
“O Brasil traçou seu caminho para a sustentabilidade, crescimento mais acelerado quase duas décadas atrás, com as reformas tributária, trabalhista e do setor público na lista de suas prioridades. Estas coisas não aconteceram ainda. Até que o façam, o Brasil vai continuar a voar como uma galinha”.
Fonte: G1