A economia brasileira registrou crescimento de 2,7% em 2011, segundo divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (6). Em 2010, o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) fora de 7,5%.
Por setores, o crescimento em 2011 foi o seguinte: agropecuária (3,9%), serviços (2,7%) e indústria (1,6%).
Veja o que membros do governo, parlamentares, economistas e entidades civis comentaram sobre o resultado da economia em 2011 e sobre perspectivas para 2012:
Guido Mantega, ministro da Fazenda
O que nos levou a este resultado em 2011 foi um ajuste que foi feito principalmente no primeiro semestre de redução do ritmo de crescimento, que vinha muito forte em 2010. Foi diminuindo o ritmo, principalmente porque havia uma inflação mundial que corria o risco de contaminar o Brasil. [...] Não contávamos com o agravamento da crise internacional. Se não tivesse havido agravamento da crise, crescimento seria mais perto de 4% do que de 3%. Tem um peso grande a deterioração da economia mundial no segundo semestre.
Alexandre Tombini, presidente do Banco Central (BC)
O crescimento do PIB... confirma que a atividade econômica ganhou impulso no final do ano passado. [...] Os sólidos fundamentos e um mercado interno robusto constituem um diferencial da economia brasileira, mesmo diante do complexo ambiente internacional. Dessa forma, as perspectivas apontam intensificação do ritmo de atividade ao longo deste ano, com a economia crescendo em ritmo maior do que o observado ano passado, compatível com o equilíbrio interno e externo e consistente com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012.
Luciano Coutinho, presidente do BNDES
O crescimento de 2,7% do PIB em 2011 foi muito significativo para o país, considerando-se principalmente a conjuntura internacional adversa. O resultado colocou o Brasil na sexta posição na economia mundial e apesar da desaceleração em relação ao ritmo obtido em 2010, a criação líquida de empregos formais em 2011 foi firme, alcançando cerca de 2 milhões, assegurando mais avanços na inclusão e distribuição da renda. Importante também observar a expansão de 4,7% na Formação Bruta de Capital Fixo, no ano passado, desempenho que confirma o vigor do nível dos investimentos na economia brasileira e reflete expectativas positivas para 2012.
Adriano Pires, presidente do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE)
O PIB cresceu dentro do que se esperava. No caso da indústria, o baixo desempenho (1,6%) foi foi em grande parte em função do câmbio e da concorrência dos importados, e a maior prejudicada foi a indústria da transformação. Mas, se olharmos o cenário internacional, estamos muito bem. A questão do câmbio será um grande dever de casa a ser tratado em 2012. Mas o interesse pelo Brasil é fantástico. O Brasil poderá surfar em meia a essa liquidez internacional se souber aproveitar essa tsunami financeira em investimentos para modernizar a infraestrutura do país.
Luigi Nesse, presidente da Confederação Nacional de Serviços (CNS)
O setor de serviços continua sustentando o crescimento da economia. Só na área de serviços privados (sem incluir comércio e intermediação financeira), o emprego subiu 6,1% e a massa salarial 13,3%. Em segmentos como telecomunicações, TI e comércio eletrônico, o crescimento é vegetativo em razão do aumento da necessidade de serviços internos e pela facilidade de novos negócios. O setor está focado no mercado interno e, como a massa salarial tem aumentado, acreditamos que vamos ter em 2012 um crescimento em torno de 5%.
Mônica Bolle, economista da PUC-Rio
O resultado veio em linha, mas teve algumas revisões para trás que são relevantes e mostram que a economia brasileira deu uma fraquejada no segundo semestre. Os indicadores que temos para o primeiro trimestre até agora estão mostrando que a recuperação da economia está meio sem fôlego (Veja vídeo da Globo News ao lado).
Cristina Helena Pinto de Mello, professora da ESPM
Os números mostram que estamos desacelerando, perdendo o fôlego. O crescimento da economia continua sendo puxado por consumo e gastos do governo. E, apesar dos estímulos, aparentemente começa a se observar um freio no consumo das famílias (alta de 4,1% em 2011 ante a 6,9% em 2010). Percebe-se uma diminuição da confiança dos consumidores e uma preocupação em relação à situação atual. A diminuição da participação da indústria, ainda que por fatores relacionados ao câmbio, é preocupante. O país ainda não tem uma estratégia de inserção na economia global. Ao que parece, estamos nesse ano com um arsenal de medidas econômicas mais limitado. Não acho que vai haver uma contração do ritmo de crescimento em 2012, mas vamos crescer menos do que se esperava.
Rafael Bistafa, economista da Rosenberg & Associados
O resultado veio um pouco abaixo do que o mercado estava esperando, mas não foi nenhuma surpresa. O bom desempenho da agripecuária já era esperado, pois a safra foi muito boa e combinou com preços elevados. O consumo das famílias deu uma recuperada em relação ao terceiro trimestre e essa tendência deve se manter nesse começo de ano. Nossa expectativa é de que o PIB feche o ano de 2012 em torno de 3,5%. Mas, se olharmos o lado da demanda, o PIB potencial do país é em torno de 4,3% e 4,5%, argumento que pode ser usado pelo Banco Central para continuar reduzindo os juros.
Juan Jensen, professor do Insper e sócio da Tendências Consultoria
O Brasil tem conseguido sustentar o crescimento via consumo das famílias, que continua robusto e avançando em níveis superiores ao do PIB. Em 2012, a dinâmica tende a ser parecida, com a economia crescendo um pouquinho mais, com a indústria de transformação enfrentando problemas, e extrativa mineral, serviços e a agropecuária puxando novamente o crescimento.
José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator
Saímos de 7,5%, em 2010, para um crescimento de 2,7%. Essa desaceleração não é surpreendente, pois reflete a alta do risco lá fora como também as políticas econômicas do governo. Do lado da oferta, temos uma economia cada vez mais movida por agricultura e serviços, com o papel da indústria caindo, sobretudo a indústria de transformação - a mais maltratada pelo câmbio e pela alta das importações. Do lado da demanda, a massa salarial continua crescendo, o que aumenta o consumo de eletricidade, telefonia e serviços. Olhando o cenário para frente, não dá para ficar nem muito animado nem muito desanimado. A comparação do quarto trimestre com o terceiro trimestre, mostra que não há mais retração, mas deve-se relativizar a análise de que o pior da crise já passou. Tudo indica que o primeiro trimestre será fraco. É muito difícil imaginar um crescimento maior do que 3,5% no ano.
Marco Maia, preidente da Câmara dos Deputados
“Considero que termos crescimento do PIB no Brasil no ano passado, frente a uma crise internacional que atingiu a maioria dos países do mundo é uma vitória do Brasil. Apesar de tudo o que aconteceu no mundo, apesar de crise nos Estados Unidos, crise na Europa, o Brasil continuou num ritmo de crescimento e continuou num ritmo de distribuição de renda, o que é importante. Que bom que isso aconteceu também de forma sustentável. Não é aquilo que aconteceu em alguns países, uma bolha de crescimento, um crescimento insustentável. Mesmo que não tenha sido o PIB dos sonhos, é aquilo que foi possível o Brasil produzir diante de um cenário negativo.”
Bruno Araújo (CE), líder do PSDB na Câmara
Acho que o governo deveria muito mais do que governar olhando as pesquisas de popularidade, observar os números da economia. O resultado do PIB é pífio, resultado de um governo que não vem internamente fazendo as reformas necessárias. É muito fácil colocar a culpa nos outros quando a economia interna não vai bem e dizer que o problema são das grandes economias, dos países ricos. No passado, quando a economia internacional estava bem, o governo do PT não fazia esse exercício, dizia que a economia interna ia bem por conta da sua competência de governar. Como o resultado de medidas internas não tomadas, o resultado do PIB foi pífio.
Jilmar Tatto (SP), líder do PT na Câmara
“Há um esforço muito grande da presidenta Dilma de potencializar o crescimento econômico. É um esforço tanto do ponto de vista de garantir o investimento no PAC já no primeiro semestre, continuar garantindo o investimento no Minha Casa, Minha Vida, diminuir a carga tributária de alguns setores da economia, potencializar as empresas públicas, principalmente o Banco do Brasil e a Caixa Econômica do ponto de vista do crédito, de facilitar o crédito, e também esperamos que o Banco Central abaixe bastante o juros para ajudar no crescimento. Vamos perseguir 4% de crescimento em 2012.”
Ronaldo Caiado (DEM-GO), deputado federal
“O único setor que é responsável por R$ 800 bilhões no PIB nacional é o setor agrícola. Se você congelar aquilo que o Ministério do Meio Ambiente e o Senado desejam, você vai congelar do PIB agrícola mais de 300 bilhões de reais. Então, imagine você o que será essa radiografia no final do ano. Vai ser um desastre completo. É a crise provocada por nós mesmos. Ou seja, o governo está fabricando a crise. Ele mesmo está dizendo: ‘Eu quero implantar a crise no Brasil. Eu vou destruir o único setor que é competitivo internacionalmente’. Existe um comportamento bipolar. A presidente cobra hoje que os ministros implantem uma política com maior desenvolvimento econômico e crescimento do PIB, e o governo propõe um Código Florestal que desativa o único setor competitivo do país.”
Paulo Skaf presidente da Fiesp
“O que explica o desempenho pífio da indústria brasileira são aqueles pontos que estamos falando faz tempo: câmbio e juros elevados, altíssima carga tributária, custo de energia e spreads maiores do mundo, infraestrutura deficitária e “invasão” de produtos importados, que se valem não só do câmbio, mas também de incentivos fiscais ilegais oferecidos por alguns estados para atrair importações (guerra dos portos). Para se ter uma ideia, no ano passado, nosso déficit na balança de manufaturas foi de 93 bilhões de dólares, um absurdo”.
Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical
Esse “pibinho”, aquém das expectativas, é decepcionante para toda a sociedade brasileira. [...]
Os números devem servir de alerta para o governo, visto que nossa economia está praticamente caminhando de lado. Para que não tenhamos uma situação desastrosa e que esta ameaça se dissipe, é urgente que a política econômica abra espaço para o crescimento e que o País tenha uma estratégia para alavancá-lo. Para isso, é vital uma queda drástica nos juros, fortalecer ainda mais o mercado interno, expandir o emprego, distribuir a renda e incrementar os investimentos em infraestrutura e nas políticas sociais.