A crise europeia pode influenciar as expectativas dos balanços anuais da companhias brasileiras de capital aberto listadas na Bolsa de Valores de São Paulo. Ainda não sabemos como as empresas vão avaliar o cenário de crise em suas expectativas, que serão publicadas em balanços IFRS, mas os resultados poderão aparecer mais conservadores, avalia o diretor técnico de IFRS da Ernst & Young Terco, Idésio Coelho.
Em outras palavras, como os balanços no padrão internacional IFRS primam pela essência, ante o cenário de crise, as companhias abertas podem apurar resultados mais conservadores, formando caixa ou provisões para créditos a receber.
O presidente do Conselho Regional de Economia da seção São Paulo (Corecon-SP), Manuel Enriquez Garcia, também acredita que a crise europeia impactará as expectativas para os balanços anuais de 2011. Num balanço em IFRS todos os ativos são valorizados a preços de mercado. Num cenário de deterioração, esses preços - e consequentemente, o patrimônio das empresas - podem diminuir, prevê Garcia.
Coelho, da Ernest & Young Terco, concorda que os balanços podem sofrer mudanças significativas em relação aos apresentados no ano passado. A volatilidade dos resultados veio para ficar, afirma o diretor técnico.
Garcia avalia que o setor exportador será o mais afetado nos resultados. Houve uma diminuição muito forte do comércio internacional, argumenta.
Para 2012, o presidente do Corecon-SP diz que a expectativa de lucro será melhor. A tendência é de recuperação, devagar e num crescente, projeta Garcia.
Entre os alertas para as demonstrações financeiras de 2011, que estão sendo preparadas pelas companhias nesse início de ano, o sócio-líder de mercado de IFRS da Ernst & Young Terco, Paul Sutcliffe, diz que várias empresas brasileiras terão que lançar a queda do valor de seus ativos. As empresas precisam lançar o valor de mercado correspondente ao último dia útil do ano, lembrou.
Na visão por setor, o analista da SLW Corretora, Erik Scott, espera que o setor de petróleo e gás [leia Petrobras] apresente um resultado melhor em 2012. Quanto ao setor de construção civil, a maioria das empresas reajustou as expectativas para baixo. Haverá uma demanda constante, mas em velocidade menor de vendas, prevê Scott.
O analista também acredita que o setor de açúcar e álcool é promissor no longo prazo. Há a necessidade de investimento para renovar canaviais, mas os preços do açúcar e do álcool estão bons, o que deve refletir positivamente nos resultados, diz.
Scott apontou que o investidor pode ser conservador e observar o setor de saneamento básico [leia Sabesp e Copasa]. Fortes investimentos estão sendo canalizados para a construção de redes de esgoto, mas com margem menor. O investidor não espera grande crescimento de lucro, mas segurança ante a crise, sugere o analista da SLW Corretora.
Em relação à forma, Sutcliffe diz que a tendência é que o tamanho dos balanços fique menor, mas que apareçam com mais qualidade. Os analistas reclamam que não conseguem ler todas as páginas de um balanço, enfatiza Paul Sutcliffe no lançamento do estudo Grupo Modelo para as Demonstrações Financeiras de 2011, realizado ontem, em São Paulo.
Sutcliffe citou como exemplo o exagero de páginas do balanço da maior companhia brasileira. O balanço da Petrobras possui o dobro de páginas da Shell, e ambas possuem o mesmo padrão. Há um debate em Londres para limitar o número de páginas dos balanços, diz o sócio-líder.
Sobre esse tema, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e demais entidades do mercado de capitais já haviam alertado para o excesso de páginas dos balanços.
Legislação
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), liderada pela superintendente Maria Helena Santana, deverá estar atenta a safra de balanços. A CVM está aumentando seu papel regulatório e irá cobrar o cumprimento das orientações nas demonstrações financeiras, alerta Silvio Takahashi, da Ernst & Young Terco.
Segundo ele, a nova legislação que entrou em vigor no ano passado trata as orientações sobre o desvio na divulgação de informações relacionadas a demonstrações financeiras (ofício 1); orientações sobre a preparação das Informações Trimestrais/ITR (ofício 3); sobre procedimentos as serem observados pelas companhias abertas (ofício 4); sobre a elaboração do Formulário de Referência (ofício 7).
Entre as instruções do órgão regulador, a nº 493 trata da alteração das regras de emissão e negociação de recibos de empresas estrangeiras listadas no Brasil, as chamadas BDRs; a instrução 509 trata do rodízio de firmas de auditoria; e a 511 fala do prazo para arquivamento das ITRs em 45 dias.
E as instruções 514, 516 e 517 abordam o plano de contas para fundos de investimento; práticas contábeis para fundos de investimento imobiliário e o formato de relatório de fundos de investimento para arquivamento.
Fonte: DCI-SP