O fiscal americano das firmas de auditoria encontrou erros em trabalhos da BDO brasileira em três balanços fechados de 2008, quando ela ainda era associada à Trevisan. A revisão foi feita em novembro de 2009, mas o resultado do processo de revisão só foi divulgado no fim do ano passado.
Não é possível saber quais são os clientes, mas a fiscalização do Conselho de Supervisão de Contabilidade de Companhias Abertas, conhecido pela sigla PCAOB, apontou a existência de falhas no trabalho de auditoria dos balanços de todas as três empresas avaliadas.
Em abril do ano passado, a Trevisan foi comprada pela KPMG do Brasil e a BDO se associou, então, à auditoria local RCS.
Os problemas encontrados foram basicamente em relação à extensão dos testes feitos pelos auditores. Tanto sobre os controles internos das empresas como também para inúmeros itens do balanço, como reconhecimento de receita, existência de estoque, obsolescência de estoque, Imposto de Renda diferido e valor recuperável de ativos antigos.
Pela legislação americana, se uma empresa tem ações negociadas nos Estados Unidos, sua firma de auditoria está sujeita à fiscalização do PCAOB, órgão criado na esteira dos escândalos contábeis da Enron e da WorldCom, no início da década passada.
Essa foi a segunda fiscalização do PCAOB na Trevisan tornada pública. Na primeira, divulgada em 2010, o órgão americano também havia encontrado falhas, na auditoria do balanço da única empresa sujeita à fiscalização.
Em nenhum dos casos a empresa auditada teve que republicar por diferença o patrimônio ou no lucro das empresas.
Em entrevista concedida ao Valor em novembro, o presidente do PCAOB, James Doty, havia dito que o fato de os erros dos auditores não resultarem em republicações de balanços não deveria ser motivo para se minimizar os problemas. Para ele, isso significa que a empresa fez o trabalho corretamente, mas o auditor não.
De acordo com José Luiz de Souza Gurgel, então sócio da Trevisan que lidou com a equipe do PCAOB, os técnicos do órgão americano fizeram observações sobre as políticas e normas de controles internos da firma de auditoria. E a Trevisan ficou com uma lição de casa para fazer acerca desses pontos.
Mas com a venda da companhia em março do ano passado para a KPMG, diz ele, o trabalho perdeu o sentido. Aquela estrutura, em relação a qual recebemos as recomendações, não existe mais, afirma ele, mencionando até que a BDO Trevisan cancelou seu registro no PCAOB.
A KPMG, que herdou tanto os sócios como os clientes da antiga BDO Trevisan, disse que considera-se impedida de comentar os conteúdos do referido documento pelo fato de a inspeção ter sido realizada em 2009.
A RCS, que se associou à BDO, também não quis falar, com o argumento de que a fiscalização ocorreu antes da parceria.
Fonte: Valor Econômico