Pedi aos meus pais para abrir uma poupança. A partir daí, preferi sempre dinheiro a brinquedo de Natal ou aniversário, diz o estudante de engenharia mecânica, que dá aula particular de matemática e mora com a família.
Adolescente, Bartalo começou a pesquisar sobre finanças pessoais e abriu uma conta em uma corretora, mediante autorização dos pais. Desde então, diversifica os investimentos em ações (70%) e renda fixa (30%), e, principalmente, controla os gastos.
O jovem crê que se aposentará com independência financeira -sonho de muitos, e planejado por poucos.
Quadro nesta página traz simulações que mostram que começar a investir cedo reduz o esforço mensal de poupança. Foi estipulada uma meta de R$ 1 milhão (valor bruto) a ser alcançada aos 55 anos em três tipos de aplicação: o primeiro com um perfil mais conservador (baixo risco), o segundo com risco intermediário e o terceiro, arrojado (maior risco).
A taxa real de juros, descontada a inflação projetada do período e que remunera o investimento, aumenta junto com a exposição ao risco.
A primeira aplicação, em títulos do governo (Tesouro Direto), prevê juro real de 4,5% ao ano. A segunda, em títulos privados de renda fixa (como CDBs de bancos), tem 5,5% ao ano de juro. E a terceira, em renda variável (ações), taxa de 6,5% ao ano.
Assim, quanto mais agressiva a aplicação, menos dinheiro por mês o investidor precisa poupar em busca de seu objetivo, pois os recursos rendem mais. Mas vale lembrar que, em caso de crise financeira, como a de 2008, aplicações mais conservadores sofrem menos impacto.
Os cálculos mostram que quem começa o investimento mais conservador aos 45 anos precisa aplicar por mês, para atingir a meta aos 55 anos de idade, mais de três vezes o projetado para os 30 anos e mais de sete vezes o estimado aos 18 anos.
Na opção mais arrojada, em que há mais efeito dos juros ao longo do tempo (pois as taxas, que multiplicam o dinheiro, são mais altas), as diferenças aumentam. O valor mensal para quem começa aos 45 anos é mais que o quádruplo do recomendado aos 30 anos -e mais de dez vezes o estimado aos 18 anos.
Do Berço
Se uma aplicação financeira for iniciada pela família para beneficiar uma criança ao nascer, esse futuro investidor poderá alcançar a meta mantendo poupança mensal que representa de 2,83% a 5,39% do valor projetado para quem começa aos 45 anos (dependendo da aplicação).
As pessoas, muitas vezes, não se propõem a poupar R$ 1 milhão porque acham o valor alto, mas é possível para qualquer um, principalmente se o planejamento tem início cedo, diz Mauro Calil, educador financeiro, que fez os cálculos para a Folha.
Uma estratégia é começar com metas menores, como R$ 20 mil e R$ 100 mil. Depois que o bolo começa a crescer, fica mais fácil, acrescenta.
Os especialistas ponderam que R$ 1 milhão não significa independência financeira para todos; isso vai depender do padrão de vida e, no momento da aposentadoria, da situação econômica do país.
Essa quantia, se bem empregada, ajuda a trazer tranquilidade. Em renda fixa, rende hoje cerca de R$ 4.000 por mês, afirma Erasmo Vieira, consultor da Planilhar Planejamento Financeiro.
Aplicações devem ser revisadas a cada 3 meses
Avalie sempre tanto meta quanto estratégia
Mesmo que o foco da aplicação seja o longo prazo, é preciso rever constantemente os investimentos, para avaliar como andam os rendimentos e se é preciso fazer algum ajuste de estratégias ou metas financeiras.
Especialistas consultados pela Folha orientam que a revisão seja feita a cada três meses no caso de aplicações administradas pelo próprio investidor.
Para investimentos feitos por gestores de recursos ou seguradoras [como planos de previdência privada], há profissionais que se encarregam desse acompanhamento. Mas é preciso lembrar que o custo disso é maior, diz Mauro Calil, educador financeiro.
As taxas cobradas por corretoras para pessoas físicas que investem em ações geralmente vão de 0,5% a 2% do valor da transação, mas podem ser menores ou um valor fixo, conforme negociação com o cliente.
Já na previdência privada, as taxas de administração, variam de acordo com o tipo, o período e os valores do plano escolhido.
Essas taxas, que incidem sobre todo o dinheiro poupado, inclusive a rentabilidade, ficam entre 2,5% ao ano e 0,8% ao ano.
Mas, se o investidor não tem tempo nem disposição para acompanhar o mercado e suas aplicações financeiras, é preferível que ele pague por uma gestão profissional, diz Erasmo Vieira, da Planilhar. Abandonar um investimento traz mais prejuízo.
O investidor individual também deve reavaliar todo o planejamento financeiro, incluindo o orçamento, pelo menos uma vez por ano.
Reserva de Emergência
Ainda de acordo com os consultores, a construção do patrimônio de longo prazo como R$ 1 milhão para a aposentadoria- deve prever, antes de mais nada, uma reserva de emergência.
Espécie de colchão, a reserva deve contemplar, em renda fixa, o equivalente a 12 meses de gastos.
Também é indicada a diversificação em imóveis e em renda variável -que possibilita mais rentabilidade.
O mais importante é começar a poupar o quanto antes, pois a taxa de juros trabalha a favor do dinheiro, ressalta Augusto Braúna, diretor financeiro da Brasilprev.
Fonte: Folha de S.Paulo / por Fenacon
Escrito por: Carolina Matos